terça-feira, 10 de junho de 2014

ARTIGO - A FORÇA QUE PODE MUDAR O BRASIL

A força que pode mudar o Brasil
Por Fabrício Lopes* e Dalmo Viana**


Por muito tempo o Movimento Estudantil foi o único canal de diálogo e pressão da juventude brasileira para conquistar avanços nos direitos enquanto cidadãos e na defesa do país. A partir da Constituição de 1988 e o advento da inclusão dos conceitos da democracia participativa, além de maior perspectiva no compartilhamento das ações, decisões e transparência do estado, proporcionaram um ambiente onde diversos atores do movimento juvenil pudessem se apropriar de diversas ferramentas e espaços para protagonizar novas lutas.

Com a abertura de novos espaços de discussão e a proposição de novas agendas, diversos movimentos passaram a se organizar e fortalecer. Isso possibilitou a abertura de diversas outras frentes de atuação que hoje inclusive apropriam-se dos meios tecnológicos para difundir suas idéias e conquistar adeptos.

Cada vez é mais visível a participação da juventude nos espaços de criação, desenvolvimento e operação das políticas, porém esse numero ainda é pequeno se entendermos qual o verdadeiro potencial dos nossos jovens e o tamanho de sua participação na sociedade.
Ainda possuímos diversas lutas a realizar, é preciso pensar o tema para além do conformismo de que “um dia já foi pior”. Não podemos deixar ressoar os pensamentos dos porta-vozes do conservadorismo que visualizam os jovens apenas como elementos estáticos e tutelados.

Nos últimos anos, através especialmente das pressões realizadas pelos movimentos juvenis organizados, conquistamos diversos avanços institucionais, entre as quais destacamos a aprovação da Emenda Constitucional nº 65 (PEC da Juventude) que insere e reconhece a juventude como sujeito de direitos na Constituição, a realização de duas Conferências Nacional de Juventude, que apontaram demandas, anseios e desafios através da voz da própria juventude e o Estatuto da Juventude, diploma legal de direitos para os jovens entre 15 e 29 anos, o qual ainda carece de um Sistema Nacional de Juventude com regras claras de financiamento de politicas publicas que estejam em sintonia com as necessidades dos jovens.

Além disso, necessitamos fazer um debate sério em torno do Plano Nacional de Juventude, que possui um texto arcaico em tramitação na Câmara dos Deputados e nem de longe representa as necessidades atuais da nossa juventude.

Esses esforços se fazem necessários para que não coloquemos em risco o que já foi conquistado. Devemos lutar pela construção  instrumentos políticos fortalecidos, para não corrermos o risco de ver direitos deturpados ou engavetados por gestores públicos sem compromisso com a temática. 

A juventude brasileira já esperou demais. Neste momento da nossa história se faz necessária uma grande avaliação e a redefinição de rumos, inclusive no que tange ao papel dos nossos militantes políticos nestas lutas. ‘E preciso criar sintonia real com os movimentos populares, com as administrações de municípios e estados, mas sobretudo dialogar com a grande massa de jovens que não possuem condições e acessos aos espaços formais de organização. 

Ninguém é capaz de resolver tudo sozinho, por conta disso é necessário que esse debate venha a partir da unidade de forças, sempre considerando o potencial estratégico de todos os agentes que constroem cotidianamente a luta em torno do tema. Os processos precisam ser amplos e democráticos, devem estar atrelados às necessidades levantadas pelas vozes das ruas e não aos pensamentos mofados daqueles que só enxergam um pequeno mundo a sua volta. 

A juventude brasileira anseia por agentes políticos que ajudem verdadeiramente na organização e na defesa dos nossos direitos. É preciso romper como atraso em relação a implementação de políticas eficazes a que fomos obrigados a conviver nas últimas décadas. Já basta daqueles que somente se utilizam da juventude como peça publicitária em suas campanhas eleitorais. 

O tempo é de construir uma nova perspectiva junto a essa nova geração de brasileiros, tornando imprescindível a construção de uma agenda propositiva que entenda de fato o jovem como cidadão e dê condições de tratamento e inclusão diante das suas especificidades culturais, sociais, econômicas e territoriais. 

Além da desestruturação do Estado e o conservadorismo político, estamos  contra o tempo, pois os jovens da geração deste bônus demográfico veem escapar muitas possibilidades de constituir uma nova fase de desenvolvimento para o país. Já não bastasse o atraso que estamos relegados, isso pode causar uma prejudicialidade ainda maior no futuro caso não fomentemos ações dinâmicas e coerentes com a realidade que vivenciamos. 

É preciso ousar mais, deixar as ideias fluírem sem medo e investir muito na criatividade do nosso povo. O momento é agora, sem medo do dialogo. Jovens camponeses, indígenas, urbanos, quilombolas. Homens e mulheres, trabalhadores e desempregados, estudantes e analfabetos. Deve ser nosso compromisso estar ao lado dos que mais necessitam nessa hora. Os jovens brasileiros são a força que pode transformar nosso país um lugar melhor para se viver. Que a mudança comece por cada um de nós.


*Fabrício Lopes é Gestor Público e ativista das Políticas de Juventude
**Dalmo Viana é Sociólogo e militante do PSB/SP

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