quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A POLÍTICA DA EXCLUSÃO

Viaduto, reduto do marginalizado
Mendigo, que um dia esteve desesperado
Mas que hoje tem ali seu mundo acordado
Enquanto o cidadão dorme dopado
Ele usufrui da brisa ao ar livre sem telhado
Sem o medo de ser julgado
De ser encarado olho no olho pois foi roubado
Sua alma, dignidade, ficaram do outro lado
Junto com a identidade que caiu do bolso rasgado
O coração rasgado, remendado
Com os trapos que outrora vestiam o agora pelado
Corpo sujo, fétido e deteriorado
Plastificado com o saco do lixo que é considerado
Já não precisa de relógio, o tempo é ignorado
Enquanto todos correm, ele está parado
Tem seu espaço onde tudo é disputado
Mas se engana quem pensa que é de graça, dado
Precisa ser conquistado, onde tudo é negociado
O muro pintado, grafitado, enfeitado,
Colore o mundo do transeunte ocupado
Demais até para notar que ali jaz um ser dotado
De personalidade, sentimentos, um sujeito desalojado
Do mundo, da sociedade, do padrão considerado
Como normal, aceito, sociável, identificado
Um não-gente vivo e morto um indigente abandonado
Mais uma vez sem flores, caixão, direito de ser velado
Jogado sob a terra, o viaduto, o papelão molhado
Sua proteção como o jornal enrolado
E nesse mundo pensado auto-sustentado
É útil todo material reciclado
Objetos, coisas, material, recurso reutilizado
Mas o recurso humano só se for estudado,
Bem empregado, bem arrumado, penteado,
Cheiroso, senão não é cidadão dotado
De direitos, restando-lhe apenas o dever de olhado
De cima por quem está na ponte ou no telhado
Rebaixar-se ainda mais à sua insignificância e calado
Prosseguir diária e rotineiramente recatado
Em seu mundo muitas vezes insano com um tratado
Entre sua alma e este mundo onde tudo é considerado
Apenas mais um número estimado