quarta-feira, 1 de junho de 2011

Educação como arma para acabar com divisionismos


Foto: divulgação da internet

A educação durante muito tempo foi meio para práticas sociais segregadoras. A escola, na maioria das vezes não era acessível, seja por causa da dificuldade de localização ou pelo fato de não estar aberta a toda população. A grande massa permanecia por tempo insuficiente nos bancos de uma escola que não agregava influência política e ideológica, desconhecendo a formação ampla para o trabalho, para a cidadania e para a vida em sociedade.

É importante destacar que a educação foi e ainda é objeto de disputa de interesses, por vezes, fazendo disciplinas corroborarem na afirmação de ações políticas, na afirmação de personagens políticos, na afirmação de poderes. Poderes esses, que o maior compromisso é com seus próprios interesses, manipulando o fazer educacional.

A exemplo desse tipo de ação intencional, por volta de 1850, os projetos educacionais, no sudeste, eram marcados pela ação de determinados grupos familiares produtores de café, interessados na manutenção da escravidão. Educavam não os que serviriam, mas os futuros senhores.

Não pensemos, que na atualidade, não vivemos um ambiente escolar extremamente maquiado e maquinado para produzir afirmações de poderes. Um plano escolar voltado para preparar mão de obra sem pensamento crítico. Braços prontos ao labor. Cabeças fracas para o questionamento.

Temos o Poder formando cidadãos para a manutenção do próprio Poder.

Muito mais que pensar no alcance da escola para todos os cidadãos, devemos pensar e ouvir o que diz essa escola e que marcas, que memórias ela deixa em nossas crianças e adolescentes. Do contrário, estaremos condenados a um labirinto, ou pior, a um círculo de acontecimentos lamentavelmente repetidos.

Nos anos 1960 tínhamos um exemplo diferente deste, que buscava afirmar a elite nas instâncias de poder. Nesse ano foi criado no Recife o Movimento de Cultura Popular com o objetivo claro de ampliação da consciência sócio-política da população, nascendo no seio do movimento social, sendo mais tarde apoiado pelo poder público e muito criticado por quem via a educação como mecanismo de afirmação dos poderosos.

Pensar em transformar a sociedade a partir da educação pode soar utópico, mas é a idealização de algo possível, de algo que queremos, ou seja, perfeitamente realizável. Ao garantir a universalidade – na Constituição de 88 – e deixar para trás a velha escola, aquela que apenas prioriza o letramento, inicia-se a jornada para a construção da educação comprometida com o projeto político de transformação social, extinguindo os divisionismos, de modo a tornar a escola um espaço de superação da marginalidade, garantindo a equalização social.

A grande dificuldade na edificação da nova escola é garantir o trabalho diário para que o ambiente escolar promova o reconhecimento da dimensão social do homem, a partir da preparação para a participação efetiva na vida social e cidadania.

Com esses esforços nascerá uma escola que não esteja apenas preocupada em atingir índices educacionais pré-estabelecidos e sim empenhada em promover a superação das desigualdades, e que priorize as relações sociais, estimule à participação, o protagonismo, a democracia, o engajamento social, a preparação para o mundo do trabalho. Além desses papéis, a escola tem o dever de elevar o nível intelectual das massas, com a difusão do conhecimento, focada em obter a fórmula revolucionária para a libertação que garantirá a emancipação do jugo colonialista e dias melhores, um povo melhor, e quiçá governantes melhores.



Márcia Rebeca – Professora de Química
Rodrigo Souza – Acadêmico de História

Um comentário:

  1. Márcia e Rodrigo, vcs foram muito felizes em retratar com olhares conscientes, críticos e propositivos a nossa realidade enquanto sociedade, os nossos desafios enquanto povo.
    Quero destacar que a sociedade civil tem papel fundamental em cobrar dos governos e dos parlamentares o efetivo respeito a Constituição de 88, sobretudo não apenas dialogar com o poder político, mas tb com a própria sociedade, uns com os outros.
    Acredito que não precisamos de apenas lideranças para provocarem um revolução, mas de pessoas que revolucionem a si mesmas.
    Não sei até onde estamos capacitados para o debate político, nós das massas, os mais pobres e oprimidos. Mas, os nossos problemas são mais simples do que parecem ser quando levada em conta a burocrática forma de resolvê-los a que estamos tradicionalizados, e quanto mais nos sentimos oprimidos mais saberemos como lutar pela nossos direitos, pela superação das desigualdades.
    Como diz o Paulo Freire na sua grande obra "Pedagogia do Oprimido", ao enfocar que o ser opressor precisa de uma teoria para manter a ação dominadora, os oprimidos igualmente precisam de uma teoria para alcançar a liberdade.

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